O CONTADOR DE HISTÓRIAS
- Conta-me uma história – pedia-lhe a moça.
- Tenho de pensar! – respondia-lhe.
Ora, acontecia que, por vezes, o tempo que levava em sua
meditação era longo demais para ela, que se zangava. Mas ele balançava a cabeça
e respondia impassível:
- Você deve ter um pouco mais de paciência. Uma boa história
é como uma boa montaria. A caça brava fica escondida e é preciso armar
emboscadas e ficar de tocaia horas e horas a fio, na boca dos precipícios e
florestas. Os caçadores mais apressados e impetuosos afugentam a caça e nunca
obtêm os melhores exemplares. Deixa-me, pois, pensar!
Mas, desde que tivesse meditado o tempo bastante e começasse
a falar, não parava enquanto não tivesse contado a história completa, que
corria ininterrupta e fluente como um rio descendo montanha abaixo e em cujas
águas tudo se reflete – desde a pequena folha de grama até o azul da abóbada
celeste(...).
Convertia-se num ser todo-poderoso assim que iniciava mais
uma demonstração de sua arte, pois aprendera a arte de narrar no Oriente, onde
essa função é altamente apreciada e seus praticantes são considerados uma espécie
de magos.
Jamais começava suas histórias em países estranhos, para
onde o espírito do ouvinte não podia voar com força própria.
Principiava sempre com algo que os olhos pudessem ver;
depois, imperceptivelmente, levava a imaginação dos ouvintes para onde muito
bem ele queria de modo que a narrativa transcorria com naturalidade. Quem o
escutava absorto em suas palavras, embora continuasse tranquilamente sentado, o
espírito já vagava. Alegre e receoso, pelas regiões mais fascinantes. Assim era
a maneira de ele contar suas histórias.
Herman Hesse
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