Certa vez um hospedeiro recebeu a visita de um amigo de longa data. O visitante que era um andarilho dos mais viajados olhou com carinho seu hospedeiro. Os dois eram amigos muito íntimos, mas o tempo, o trabalho e outros assuntos mundanos, aos poucos, os havia separado.
Enfim a distância terminou e os dois felizes companheiros celebraram o reencontro com uma refeição suntuosa e muito vinho. Passaram o dia em alegria, mas, agora que a noite chegara, o visitante estava tão embriagado pelo vinho que a única coisa a fazer era fechar os olhos e dormir profundamente.
Enquanto o visitante descansava pesadamente, o hospedeiro teve de atender um importante e inadiável chamado. Não havia maneira de recusar e, embora triste por ter de abandonar o amigo, decidiu partir imediatamente para a missão. Antes, porém, preocupado com o bem-estar do seu amigo, escolheu sua joia mais preciosa e costurou-a sob o manto do amigo.
Pensou: “Quando ele acordar pela manhã, certamente ainda estará bem sonolento. Verá que eu tive de partir e ficará desapontado. Porém, quando vir esta preciosa joia compreenderá que, a despeito da minha rude e apressada partida, eu o amo profundamente e lhe desejo o melhor. Colocando a joia sob sua roupa ele a levará sem falha. Se a colocar em outro lugar talvez ele não a perceba ou a esqueça”.
Pela manhã, o visitante, ainda "grogue", olhou em volta e ficou desapontado por não ver o amigo. Com pesar, colocou a roupa e foi seguindo seu caminho sem perceber a joia escondida em seu manto. Por muito tempo vagou percorrendo estradas arenosas e inúmeros países numa constante luta pela sobrevivência. Trabalhou duramente sem a mínima ideia da riqueza que levava consigo.
Erick Fugii
Um dia os dois amigos se encontraram novamente. O hospedeiro ficou chocado com a aparência do amigo e perguntou lhe com compaixão:
“Por que você se tornou tão pobre e miserável? Quando me visitou eu costurei a mais preciosa das joias nas dobras de sua roupa, de modo que pudesse viver uma vida digna. E mesmo assim tem levado esta vida miserável? Deve usar imediatamente essa joia e mudar sua condição de vida. Então terá tudo que almeja”.
Pela primeira vez o visitante compreendeu o grande tesouro que seu amigo lhe havia dado. Seu ser iluminou-se de alegria e lágrimas deslizaram pela sua face.
Conclusão
O Sutra do Lótus utiliza parábolas com o intuito de facilitar a compreensão dos princípios budistas. Há sete mais representativas, dentre elas a Parábola da joia escondida no manto (cap. 8 do Sutra do Lótus, Profecia da Iluminação para Quinhentos Discípulos).
A joia de valor inestimável é uma metáfora da natureza de buda. O forro do manto representa as profundezas do nosso ser.
Em outras palavras, a parábola nos transmite o princípio de que o tesouro extremamente nobre da natureza de buda existe dentro de todos nós. O Sutra do Lótus é um ensinamento que nos possibilita despertar para o nosso estado de buda inerente e a conduzirmos uma vida feliz.
Na parábola, o despertar alegre é provocado pelo diálogo imbuído de amizade.
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